Depois de ser tachada de “formal” durante uma avaliação de Laboratório de Produção Textual decidi que nunca mais seria chamada assim. Não que isso fosse um xingamento, mas ...
Formalidades a parte, ser rebuscado e entrópico é algo que não cabe ao Jornalismo, pecado como esse não há perdão. Então parti.
Em meio a livros, alguns mais desejados que outros, a vontade de comprar não me faltava. À primeira vista muita coisa poderia ser interessante. Clássicos da Filosofia, Best Sellers da auto-ajuda, contistas de primeira. Mas enquanto um dos meus olhos se fixava nas prateleiras do stand, o outro apreciava uma nota de R$ 50, 00 dentro da carteira. Este olho como se fosse boca, falava aos meus ouvidos: “Qual é o problema de gastar o dinheiro todo?” , ao passo que minhas pernas se questionavam a respeito do moto – táxi , e ainda meu estômago ruía de fome.
Definitivamente não poderia gastar aquela grana de uma vez só. “Um livro baratinho, eu só quero um livro baratinho”. Estava eu, sozinha, parada em frente a um monte daqueles “livros de bolso”. Lá talvez encontrasse algo que beirasse os R$ 20,00.
Martha Medeiros – Coisas da Vida, um livro de crônicas. Crônicas? Quem sabe eu aprenda a escrever mais coloquialmente, e passe ao rol dos simples, mais profundos.
Ela era assim.
Dias, semanas inteiras, como um oráculo consultava crônica por crônica. O jeito descompromissado em manter-se nos padrões da moralidade, mas compromissado com a vida, bem como seus desejos e ilusões, cativava.
Não segui a ordem do sumário, fui lendo conforme o título que mais chamava atenção. Em alguns momentos lia a mesma, em espaço de horas, e cada leitura um algo a mais.
Era isso, quase exatamente alguém que gostaria de ser. Digo, quase, pois cada um trás em si um valor inestimável e único. Mas enquanto não chego lá, deixo vocês com Ela.
Fugir de Casa
Qual é a criança que nunca sonhou em fugir de casa? Todo mundo tem uma experiência pra contar. A minha aconteceu quando eu tinha uns sete anos de idade. Depois de ter minhas reivindicações não aceitas – provavelmente eu queria um quarto só pra mim e não precisar mais escovar os dentes – preparei uma mochila e disse “vou-me embora”. Tchau, me responderam.O quê??? Então é assim? Abri a porta do apartamento, desci um lance de escada e ganhei a rua. Fingi que não vi minha mãe me espiando lá da sacada. Fui caminhando em direção à esquina, torcendo para que viessem me resgatar, mas nada. Olhei para trás. Minha mãe deu um abaninho. Grrrr, ela vai ver só. Apressei o passo. Dobrei a esquina, sumi de vista, e claro, entrei em pânico. Pra onde ir? Antes de resolver entre pedir asilo numa embaixada ou tentar a vida numa casa de tolerância, minha mãe já estava me pegando pelo braço e dizendo que a brincadeira havida acabado. Fiquei aliviada, por um lado, mas a ideia de fugir ainda me ocorreria muitas vezes.O desafio agora seria elaborar um plano mais realizável, pois estava aprovado que , sim, eu queria escapar, mas ao mesmo tempo queria ficar. O mundo lá fora era libertador, mas também apavorante. Eu estava numa encruzilhada : queria ser quem eu era, e ser quem eu não era. Qual saída? Ora, escrever,Um plano perfeito. De banho tomado, camisola quentinha e com os dentes escovados, eu pegava papel e caneta antes de dormir e inventava uma garota totalmente diferente de mim, e que não deixava de ser eu. Fugia todas as noites sem que ninguém corresse atrás de mim pra me trazer de volta. Ia para onde bem queria sem sair do lugar.Viva as válvulas de escape, que lamentavelmente não gozavam de boa reputação. Não sei quem inventou que é preciso ser a gente mesmo o tempo todo, que não se pode diversificar. Se fosse assim, não existiria o teatro, o cinema, a música, a escultura, a pintura, tudo o que possibilita novas formas de expressão além do script que a sociedade nos intimida a seguir: nascer – estudar – casar – ter filhos – trabalhar – e – morrer. Esse enredo até que tem partes boas, mas o final é dramático demais.Overdose de realidade é a ruína do ser humano. Há que se ter uma janela, uma porta, uma escada para o imaginário, para o idílico – ou para o tormento, que seja. Ninguém é uma coisa só, ninguém é tão único, tão encerrado em si próprio, tão refém do que lhe foi ensinado. Desde cedo fica evidente que nosso potencial é múltiplo. Como segurar a onda? Fugindo de casa, mas fugindo com sabedoria ,sem droga, através do espetáculo da criação, mesmo que sejamos nossa única platéia. Cada um de nós tem obrigação de buscar uma maneira menos burocrática de existir.
Blog da Beca!! legal ;-)
ResponderExcluirÉ amiga deixar a formalidade de lado é bem difícil eu também estou tentando!mas vc conseguiu seu texto tá bem leve, muito bom!
Realmente todos nós temos um pouco de "Martha" na nossa infância...
Valeuu Heliud.
ResponderExcluirCara, essa mulher é massa ! Tem uma crônicas muito boas ! E tem uns livros q to doida pra comprar ! É isso aí, volte sempre :D