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6 de out. de 2010

Não tenho idade pra pensar nisso

Esse texto foi postado em outros blogs, mas afim de não deixar este espaço jogado às traças, posto ele novamente, pra qm ainda nao leu ! 
 
 
Não tenho idade pra pensar nisso
Quase 20h. Fim de mais um dia de aula. Eu e Amanda partimos para integração, lá a conversa rende longas horas à espera do São José.
Mas especialmente hoje aquele ambiente estava lotado. Geralmente sentamos em algum banco, mais precisamente no segundo ou terceiro banco da direita pra esquerda, por lá ficamos, empolgadas com assuntos intermináveis. Sem lugar, a posição que me resta é a de ficar em pé.
Do alto do meu 1 metro e 58 cm contemplo como as pessoas curiosamente se organizam naquele espaço. Logo ao chegar, as pessoas parecem pertencer a grupos, dos mais variados possíveis. A princípio poderia classificar o grupo dos trabalhadores no final do expediente e o grupo dos estudantes do ensino médio. Ao chegar mais perto deles, reconheço subgrupos. O subgrupo dos estudantes do colégio militar, o subgrupo dos estudantes do IFMA, subgrupo dos estudantes da UFMA, subgrupo dos idosos que por alguma razão estariam ali – eles poderiam estar na calçada jogando dominó, mas estavam na integração – subgrupo das mães de crianças birrentas e antipáticas e finalmente o subgrupo da massa trabalhadora de Imperatriz. O subgrupo da massa trabalhadora mereceria mais atenção, mas desmembrá-lo seria uma missão chata e cansativa.
Então, caminhamos, eu e Amanda seguimos em direção aos ônibus. Sinceramente não tenho a esperança de encontrar algum que sirva, quando ouço: “O Santa Rita serve pra ti, né?”
Entramos. Sem perder o foco na conversa, o diálogo ganha liga à medida que o caminho é percorrido. Ao desviar a atenção das palavras, percebo o ônibus nem tão cheio assim.
Agora, ao olhar pro lado outra vez, avisto um família simpática. Uma mãe, um homem e os filhos. Duas crianças lindas. A menina devia ter uns 4 anos e o garoto uns 6 anos. Cabelos loiros escuro, olhos verdes e sorrisos encantadores. Mas como num passe de mágica o encanto dá lugar à estranheza.
A mãe senta-se à frente, ao lado dela, uma mochila infantil e uma sacola de mercado. Atrás está o marido – digo marido porque os filhos da mulher em nada se parecem com homem – e as crianças. A menina não se decide em ficar sentada ou em pé no colo do homem. Ela grita, faz pirraça, chama a atenção do irmão para coisas que acontecem na rua. Ouço barulhos, como se alguém sapateasse no chão do ônibus. É a menina. O homem a repreende, a chama por “muié”. Talvez por isso ela não o respeite. Desta vez o irmão, ele a ordena que pare. Ela atende.
A mãe, à frente, fala alto. Reclama do garoto, diz que o menino anda mentindo em relação às tarefas escolares. Ela julga o menino preguiçoso. Mas como uma criança de 6 anos poderia não gostar de fazer as tarefinhas?
A menina brinca com o cabelo do homem. Ela diz: “Essa porra, seu cabelo é quadrado!” O homem ri como se consentisse a brincadeira. O garoto apelida o homem de “rapá”. Eles conversam normalmente.
Diante dessa cena, inevitavelmente penso na minha futura família, não gostaria que a minha fosse como essa. Mas sou jovem, esse tipo de assunto pode ficar pra depois.
Puxo a cordinha que dá o sinal para o motorista parar, a essa altura Amanda já estaria em casa, ele fica no Bacuri, já eu sigo até a Rua Ceará.
Minas de Prata, esse é o destino. Passo por entre os carros até chegar no meu prédio. Enquanto isso minha mente remonta à cena daquela desequilibrada família.
De repente esbarro com Henrico – meu vizinho de porta –, inexplicavelmente ele tem a mania de me chamar de tia – não gosto da hipótese de me considerar velha –.
Sorridente ele solta: “Oi Tia!” Intrigada subo as escadas. Será que realmente já estou na idade de pensar em filhos, em família?